quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Rede das “Necessidades” Juvenis

Vivemos na era das necessidades, onde, de repente, tudo passa a ser indispensável por uma vida mais cômoda e confortável, e quanto mais, melhor. Neste contexto, se inseriram nos últimos anos os mecanismos e ferramentas disponíveis na internet, começando pelos bate-papos, muito populares já no fim da década de 90, quase ao mesmo tempo surgiram também os sites de relacionamentos, que eram, a princípio, ferramentas especificas para encontrar a “cara-metade”, parceiros ou amizades, agora vemos ascender, por cima de todas essas ferramentas, as Redes Sociais, que em pouco tempo ganharam espaço, destaque e bastante força, gerando uma revolução pouco silenciosa da internet.
Um olhar mais atencioso sobre essa nova realidade nos ajuda a compreender um pouco do que torna mecanismos como esses tão atrativos e frequentados. As estatísticas da comScore, empresa americana especializada em métricas, apontam que em 2011 os numero de internautas brasileiros alcançou cerca de 46,7 milhões, e desse número cerca de 44,9 milhões, 99% do total, acessam as redes sociais pelo menos uma vez ao mês. Outra pesquisa recentemente divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) indica que cerca de 85% dos internautas estão na faixa dos 16 aos 24 anos. Ninguém pode negar que a juventude é a primeira responsável pelo movimento que acontece hoje na internet.

A grande questão que surge é o que leva tantos jovens a penetrarem com tanta avidez nos espaços virtuais, e muitas vezes se fazer presença muito maior dentro da rede do que fora dela. A questão não é nenhuma novidade, na verdade é um tema que vem sendo discutido por psicólogos e educadores desde o começo da febre dos relacionamentos virtuais.
 
Tudo bem que as redes sociais hoje abrem espaço para quem deseja divulgar o próprio trabalho, fazer contatos profissionais e em muitos lugares já são utilizadas como instrumentos de trabalho. Existem também órgãos e empresas, e até congregações religiosas que tem um trabalho voltado para a juventude e que tomaram como empenho prático a participação e envolvimento direto dentro destas redes como uma forma de se aproximar do seu público-alvo, de seus destinatários. Por outro lado é notável que, desde que na internet surgiram espaços de relacionamento social e virtual, a grande busca da juventude dentro destes mecanismos foi por um espaço onde pudessem manifestar a própria opinião e mais do que isso, encontrar aceitação.
 
Procuremos analisar a presença dentro das redes sociais, nessa era das necessidades: acessar o Facebook, ao menos uma vez por dia, por exemplo, se tornou uma grande necessidade para muitos jovens. É necessário receber uma mensagem nova, ser curtido, ter aquela sua frase ou pensamento compartilhado e ser notado. Até por que pela internet muita gente consegue ser mais espontânea do que na convivência real do dia a dia.
 
Um jovem que quase não tem vida social, dentro do mundo virtual esbanja popularidade, manifesta a própria opinião e se revela. E não é de hoje que começamos a presenciar um espetáculo onde vale tudo por uma dose de atenção, para somar relações e marcar presença na novidade do momento e sem todos estes mecanismos virtuais estas relações talvez não existissem. O fato é que muitos destes “amigos virtuais” não trocam ao menos um “bom dia” fora da rede.
   
É a partir deste momento que se revela a fragilidade e superficialidade das relações virtuais e é também onde entra o trabalho dos educadores. O objetivo não é minar os recursos existentes, mas neutralizar o efeito nocivo provocado por eles não só no campo das relações, mas também da identidade dos jovens, cada vez mais difícil de definir e amadurecer graças ao bombardeio cultural e midiático dos grandes meios de difusão.
A indústria do entretenimento tem sido uma das grandes, senão a maior, responsável pela construção da identidade cada vez mais indefinida das massas, do grande público. A juventude é a principal consumidora de todo produto e propaganda ofertados por essa indústria nas últimas décadas.
Tudo isso é fato e ao mesmo tempo não escapa da obviedade, está disponível para quem quiser ver. Portanto voltemos para nós mesmos e o nosso contato direto com essa realidade tão abrangente, muitos de nós já estamos inseridos nesse meio, sobretudo através das redes sociais, somos capazes de perceber a incidência e os efeitos delas sobre nós?
 
A grande necessidade da década talvez seja essa mesmo: estar online na maior parte do tempo possível. Isso por que a internet já está oferecendo tantas possibilidades novas que não é preciso sair do lugar para resolver problemas de banco, pagar contas, falar com amigos distantes, ter aulas e até conhecer lugares novos. Os próprios desenvolvedores do Facebook já apresentaram o projeto que a rede tem de reunir o maior número de ferramentas e possibilidades dentro do site, ou seja, juntar o máximo de coisas necessárias e básicas para uma pessoa para que ela possa ter acesso sem sair do site.
 
Voltando para o nosso foco que é a internet e a juventude, dentro da Congregação Salesiana já estamos falando dos “novos pátios” onde a nossa ação possa alcançar as novas gerações de jovens, cada vez mais difíceis de encontrar nos pátios físicos das nossas paróquias, escolas e obras sociais. O novo desafio é justamente encontrar uma forma adequada de acessar estes novos pátios, visto que a corrida atual é tão veloz que quando chegamos a acessar, de fato, a um mecanismo, ele já se tornou obsoleto. Portanto o desafio não é apenas o acesso, mas conseguir acompanhar a mudança, e falar de mudança não é fácil.
  
Estamos mesmo na era das “necessidades”, tanto para os jovens, como para crianças, adolescentes, adultos, idosos, padres, freiras, advogados, arquitetos, médicos, agricultores, políticos. Estas necessidades não são apenas conveniências, também existem neste meio as necessidades realmente válidas e a mudança é uma delas.
  
Para atingir os novos pátios, para que os novos acessos sejam possíveis demanda de nós interesse e empenho em um processo de mudança que já começou: o Documento de Aparecida nos fala à respeito das comunidades missionárias, que estas devem “entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365) e em outra passagem nos recorda que é “urgente a criação de novas estruturas pastorais, visto que muitas delas [existentes hoje] nasceram em outras épocas” (DAp 173) para atender às necessidades de uma realidade especifica. Creio que isto seja válido também para a nossa missão urbana com a juventude inserida em novas estruturas.
  
O “produto” que nós ofertamos à juventude é a pessoa de Jesus Cristo e, na linguagem salesiana, a salvação das almas. Se quisermos “colocar” o nosso produto no mercado atual precisamos ser mais do que nunca criativos, o que não implica em uma “concorrência” de nossa parte, o que seria ridículo, e nem uma luta equiparada, ou seja, utilizando as mesmas armas de outras denominações. A igreja tem suas próprias “armas”: a profecia, a santidade de vida, a solidariedade cristã. Mas o nosso anúncio do evangelho hoje continua a exigir de nós conhecer e participar dos novos meios de forma ativa e significativa.
  
Nem tudo é novidade, os jovens de hoje continuam buscando a Deus. Contudo uma parte expressiva dos jovens internautas tem revelado que a forma com que esses instrumentos virtuais vêm sendo empregados nos últimos tempos precisa ser reavaliada. A idéia inicial e as possibilidades oferecidas pelos mecanismos de redes sociais têm todas as condições de oferecer ainda muito mais do que relações superficiais e já oferece, basta agora que possamos superar esse nível de necessidades puramente atávicas e avançar para um nível maior de relevância educativa.
  
E Dom Bosco nos recomenda ainda hoje que para conquistar os jovens é preciso se aproximar deles, se interessar por aquilo que a eles interessa, pelas suas coisas, “amar o que eles amam”, para que depois eles também se interessem por aquilo que queremos transmitir a eles: o amor que Deus tem por eles.

2 comentários:

  1. Caríssimo Wellington,
    Primeiramente gostaria de parabenizar pelo texto. Realmente a Internet pode e deve ser utilizada de diversas maneiras para atingir determinado público-alvo. Parabéns também pelo trabalho desenvolvido pela sua congregação junto aos jovens e almejo que os "novos pátios" possam alcançar esse público por meio de vários recursos disponíveis, como por exemplo, a Internet.

    ResponderExcluir
  2. Está certo. Estamos aí no processo de enculturação do Carisma Salesiano nos novos meios, ainda que, em algumas realidades, de forma muito acanhada.

    ResponderExcluir