quarta-feira, 2 de maio de 2012

O mercado da educação

A Educação já passou por vários momentos na história do desenvolvimento humano, na verdade é um dos principais fatores que influenciou diretamente a construção da nossa história, e nos últimos tempos vem ganhando um novo valor e uma nova orientação, que tem chamado a atenção dos profissionais da área, por que mexe com muitas estruturas da sociedade.

Muita gente já se deu conta e muitas correntes já vem defendendo a idéia de que a educação não é só na escola que se aprende, isso é claro e fundamental, pois o processo educativo está inserido em todo o caminho de crescimento e amadurecimento de uma pessoa, e perpassa desde os seus conhecimentos adquiridos através da família até suas relações e experiências pessoais no decorrer da sua vida.
 
No entanto merece destaque, de uma forma particular, o processo de mudanças que tem sofrido nosso sistema educativo, do ensino básico, fundamental e médio. Todo mundo clama por mudanças, cobra isso das políticas publicas e exige uma educação de qualidade, por ser ela o motor do desenvolvimento social de uma nação, mas se abrirmos bem os olhos vamos perceber que muitas mudanças já ocorreram e continuam em ritmo cada vez mais acelerado, talvez a forma como se apresentam a nós já se tornou tão comum que nem tenhamos percebido o impacto que tem causado sobre a nossa geração.
 
Hoje podemos falar de um “mercado” da educação como se fosse uma feira, onde os vendedores tentam persuadir seus fregueses a comprarem do seu produto. Enquanto o sistema de ensino público procura galgar passos em vista de um progresso, que não pode ser desprezado em termos gerais, o sistema de ensino privado já investe em grandes saltos rumo à comercialização de uma educação devidamente “enlatada” e preparada de acordo com o público-alvo.
  
Nada disso é à toa, sem dúvida, levando em conta que um dos grandes progressos que o processo educativo alcançou de forma expressiva já no século XXI foi uma inversão dos seus principais elementos, onde o aluno passou a ocupar o lugar central, como ser atuante dentro do processo de educação. É um passo importante que tem como objetivo a valorização do aluno e a personalização da educação, pois cada pessoa tem um ritmo especifico de aprendizagem e suas próprias necessidades e limites.
 
Nesse novo cenário é que teve inicio a grande maratona dos pequenos e grandes colégios em busca de alunos para ocupar suas salas e listas de chamada. É uma inversão interessante de posições e valores que provoca uma mudança radical nas estruturas, acostumadas ao tradicionalismo das grandes escolas de antigamente, onde a educação não passava de uma simples transmissão e memorização de conteúdos, apelando inclusive para meios repressivos de disciplina. Ou seja, nos moldes tradicionalistas os alunos não têm voz nem vez, o que não é mais aceito no nosso novo contexto, e no geral os filhos estudavam na mesma escola que seus pais, e os pais de seus pais, porque a educação era vista em termos assumidamente tradicionais, e a experiência dos pais era fator predominante no que seria repassado aos filhos.
   
Hoje a sociedade como um todo caminha para a valorização do individuo como ser humano livre, pensante, capaz de fazer escolhas e responsável pelo próprio amadurecimento, a passividade não é mais aceita e o próprio mercado de trabalho exige pessoas ativas, no geral, verdadeiros líderes. Nessa nova cena social, o individuo é tão supervalorizado que os alunos podem até escolher onde querem estudar. O que podemos até afirmar como uma conquista do poder da escolha.
 
Pode até ser que ainda pareça coisa extraordinária para alguns, mas convenhamos que pra muita gente não seja mais. Um exemplo disso é a busca pela aprovação no vestibular, quantos casos conhecemos de jovens que durante o ensino médio, trocam continuamente de colégio, na busca por um ensino de qualidade que o capacite e garanta sua aprovação. As opções hoje são inúmeras e é possível escolher a vontade.
 
Presenciamos então um verdadeiro espetáculo onde muitas escolas surgem com educação personalizada, salas multimídia com recursos tridimensionais, lousas interativas e até descontos especiais para quem trouxer seus amigos para estudar no mesmo colégio. No que se refere à vestibular, então nem se fala, qualquer pequeno edifício pode se tornar da noite para o dia um curso preparatório para o vestibular, processos seletivos e concursos públicos, e mais tardes muitos deles se convertem em escolas de pequeno porte que somam alunos pela facilidade, praticidade e baixo custo.
 
Então a educação de qualidade mesmo continua a ser privilegio de quem pode pagar por ela? É possível que sim, mas é sempre bom lembrar que nesse “mercado” da educação, como em todo o empreendimento que visa lucro, o que vale mesmo é a propaganda, logo, não se deve tomar como base apenas critérios financeiros ou estruturais para avaliar o nível de educação repassada em uma escola.
  
Há professores que ministram aula em várias instituições de ensino, desde grandes, médios e pequeno porte. Se levarmos em conta isso, como afirmar que a sua aula seja de melhor qualidade em uma instituição do que em outra? Claro que existem os casos particulares, mas de um modo geral um professor bom pode ser bom em qualquer lugar, e o ensino que procura transmitir pode ter a mesma incidência.
 
O que esta acontecendo com as escolas mais tradicionais pode ser, justamente, resultado dessa valorização do aluno e inversão de valores vivida atualmente no processo educacional. Um aluno que deseja uma educação mais participada vai procurar uma instituição que valorize o seu modo de pensar e a sua bagagem de conhecimentos já adquiridos fora da escola. Então não há mais espaço e aceitação para aquele antigo sistema onde o professor era a única figura que dominava o conhecimento e, sobretudo, aqueles meios de intimidação e exposição humilhante do ser humano já não são sequer legalmente aprovados.
 
A escola deve ser um ambiente onde o aluno possa se desenvolver e não só memorizar conhecimentos, um lugar que prepara o ser humano para a vida e que transmita boas recordações mais tarde, além de poder ser revisitado muitas vezes para uma reciclagem acadêmica. Escola não é só preparatório para vestibular e universidade não é só lugar para tirar diploma, mas escola também não é lugar de passividade e nem de retaliação do individuo. Portanto as escolas que não estiverem preparadas para esse novo fenômeno da valorização do individuo em suas particularidades, podem se preparar para fechar as portas, porque é um processo de crescimento social que não prevê caminho de volta.

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